domingo, 22 de dezembro de 2024

Musa em café de subúrbio

 


Musa em café de subúrbio
 
São sete mulheres em duas mesas
Os homens esquecidos, obliterados
Circulam nas rotinas portuguesas
São outros os encontros marcados.
 
Aqui o púlpito é esta televisão
Uma mensagem circula pelo ar
A reportagem no lugar do sermão
Os fiéis no café rezam devagar.
 
José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Mulher em azul e branco

 


Musa em azul e branco
 
Mulher em flôr que perfuma
Este escritório acanhado
Traz uma espécie de espuma
Já passou por todo o lado.
 
No som da voz a melodia
No cabelo a tempestade
Quem diria, quem diria
Que começa outra cidade.
 
José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Musa em azul celeste

 


Musa em azul celeste
 
As ondas são Natureza
Tua voz é uma Cultura
Alcancei uma certeza
Encontra quem procura.
 
Pensamentos profundos
Nascem desta maneira
Na voz que liga os mundos
Há o clarim e a bandeira.
 
José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luis Eme - Foz do Arelho)


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Musa em almoço com Helena e Zé Lopes

 


Musa em almoço com Helena e Zé Lopes
 
Com Francisco e Zé Vilela
Num fanzine imaginado
Na parede que é janela
Vejo a Musa deste lado.
 
É peixe, carne e grelhado
Fruta e doce, café e rua
O repasto terminado
Não acaba e continua.
 
José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

 

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Musa à porta da Escola

 


Musa à porta da Escola
 
Cinco e meia na Rua do Telhal
Sobem as escadas mães e pais
À espera das crianças sem igual
Que todas afinal são especiais.
 
Há quem não consiga desligar
Motores e mudanças, lentidão
Quando chove a rua é um mar
A gabardina vai vestir o coração.
 
José do Carmo Francisco 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

 

domingo, 10 de novembro de 2024

Musa a ouvir Verdes Anos

 


Musa a ouvir Verdes Anos
 
No coração de quem passa
Verdes Anos, quem diria
Músico Rui, de sua graça
Reinventa a melodia.
 
No Metro Restauradores
Tudo o que era inda está
Ao fundo dos corredores
Os cafés Luanda e Vává.
 

(Fotografia de Luis Eme - Lisboa)

 

domingo, 6 de outubro de 2024

Novo poema nº 50 para Ana Isabel


Novo poema nº 50 para Ana Isabel

As três mesas juntas formam um rectângulo mas eles viram as costas ao tapete verde do jogo da Supertaça que a TV transmite em directo de Aveiro.

O vocabulário limitado, escasso e pobre é um evidente sinal de inferioridade tal como o uso da palavra mano para com alguém que não é irmão, tudo isto revela o básico universo de palavras do rapaz alcoolizado.

Porque entre as garrafas de cerveja a povoar as mesas juntas e a frase «Eu estou aqui», a única Supertaça em disputa é a do vazio, do temor e da morte. 

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Novo poema nº 49 para Ana Isabel


Novo poema nº 49 para Ana Isabel

Quando Elek Schwartz (1908-2000) afirmou no seu puro francês «Mais ce sont des profissionels» refutava as cartas de um africanista que em 1965, depois de quatro empates, o acusava de não conhecer a mística do SLB.

Receber ordenado certo ao fim do mês sejam quais forem os resultados desportivos é o contrário dessa mística pois tem a ver com relações laborais, apenas e só.  

Porque o fiasco da Operação Coração lembra o jornalista para quem o cheque do negócio Poborsky tinha vencimento; é o delírio e a alucinação e nada tem a ver com mística. 

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luís Eme)


domingo, 28 de julho de 2024

Novo poema nº 48 para Ana Isabel

 

Novo poema nº 48 para Ana Isabel

Soube de modo inesperado da morte de Pedro Tamen (1934-2021) a meio de uma tarde de praia, algures na Costa Vicentina mas não será hoje este o caso.

Pedro Tamen como Armando Silva Carvalho ou Fernando J.B. Martinho estão sempre comigo e não podem morrer; em certo sentido é apenas o registo civil que funciona nestas situações.

Porque a Poesia não pára, escreve-se uma canção, um poema ou então mente-se logo - se por mentir puder ser entendido o acto de fingir que a vida é tão importante como o poema procura dar a entender.      

José do Carmo Francisco


sexta-feira, 28 de junho de 2024

Segundo poema para Manuel Fernandes (1986)


Segundo poema para Manuel Fernandes (1986)

Não lhe podem já tirar tudo
mas escondem-lhe o nome, os golos,
as vozes de quem, nas humildes casas
lhe grita o nome à volta do som dum rádio
nas tardes interrompidas dum quotidiano igual.
Não são homens – são sombras, escondem o rosto,
furtivos, fechados nos gabinetes, nos automóveis,
roubam os sonhos, decretam a morte civil
dum jogador assim perseguido sem porquê.
Não lhe podem já tirar tudo
ao menos ficam os troféus oficiais, as recordações,
as homenagens mais particulares
as fotografias dos jornais e os abraços
dos companheiros a correr do outro lado do campo.
Não são homens – são sinais dum castigo
que se perde no fundo do tempo, longe,
lá onde começou a primeira de todas as guerras
lá onde tábuas de morte se pregaram num coração.

José do Carmo Francisco    

(Fotografia de autor desconhecido)