sábado, 17 de agosto de 2019

As bicicletas de 1959



As bicicletas de 1959

(poema para os oito anos do meu neto Pedro)

Quando eu tinha oito anos
Ia sempre a pé para a Escola
Porque era assim o tempo
E eram outras as palavras.
Festejei a idade no Montijo
Nessa Rua Sacadura Cabral
Com marmelada e azeitonas
Tio Cristiano, homem do pão.
À porta da Pastelaria Mimosa
Uma senhora importante
Disse para o teu bisavô atónito:
«Filho de motorista não vai para Liceu».
Era assim naquele tempo escuro
Quando o nosso Quim Zé marcou
Um grande golo pelo Sporting
No minuto 87 ao Barreirense.
Em 1989 teu pai fez oito anos
Estava eu a publicar um livro
Desporto na Poesia Portuguesa
Poemas que vão subir ao palco.
A única coisa que permanece
Do tempo dos meus oito anos
É a recomendação ao aluno:
«Não tragas bengalas e bicicletas»

José do Carmo Francisco 

(Fotografia da colecção particular de JCF)

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Balada para Adelino Gomes



Balada para Adelino Gomes

Tanta gente que foi presa
Para que houvesse eleições
Entre as urnas e a mesa
Com os sonhos e as opções.
Aqui vai Gomes Adelino
Como se escreve em França
Traçar um novo destino
Sementeira de esperança.
No Largo onde o capitão
Dá fogo com pré-aviso
E a força da multidão
É tudo o que é preciso.
Aqui não cabe ninguém
O Largo ficou repleto
Veio gente de Santarém
Trazia um plano secreto.
O Estado a que isto chegou
Já não pode continuar
E o soldado regressou
Do outro lado do mar.
Capitão Salgueiro Maia
Pela Rua do Arsenal
Havia uma outra praia
No destino em Portugal.
No mapa das prisões
Peniche, Aljube, Caxias
Tarrafal deu as razões
Para a força destes dias.

José do Carmo Francisco     

(fotografia de Carlos Gil)