sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Musa em almoço com Helena e Zé Lopes
segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Musa à porta da Escola
domingo, 10 de novembro de 2024
Musa a ouvir Verdes Anos
domingo, 6 de outubro de 2024
Novo poema nº 50 para Ana Isabel
Novo poema nº 50 para Ana Isabel
As três
mesas juntas formam um rectângulo mas eles viram as costas ao tapete verde do
jogo da Supertaça que a TV transmite em directo de Aveiro.
O
vocabulário limitado, escasso e pobre é um evidente sinal de inferioridade tal
como o uso da palavra mano para com
alguém que não é irmão, tudo isto revela o básico universo de palavras do rapaz
alcoolizado.
Porque entre
as garrafas de cerveja a povoar as mesas juntas e a frase «Eu estou aqui», a
única Supertaça em disputa é a do vazio, do temor e da morte.
José do
Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
segunda-feira, 9 de setembro de 2024
Novo poema nº 49 para Ana Isabel
Novo poema nº 49 para Ana
Isabel
Quando Elek Schwartz
(1908-2000) afirmou no seu puro francês «Mais ce sont des profissionels»
refutava as cartas de um africanista que em 1965, depois de quatro empates, o
acusava de não conhecer a mística do SLB.
Receber ordenado certo ao fim
do mês sejam quais forem os resultados desportivos é o contrário dessa mística
pois tem a ver com relações laborais, apenas e só.
Porque o fiasco da Operação
Coração lembra o jornalista para quem o cheque do negócio Poborsky tinha vencimento;
é o delírio e a alucinação e nada tem a ver com mística.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de Luís Eme)
domingo, 28 de julho de 2024
Novo poema nº 48 para Ana Isabel
Novo poema nº 48 para Ana Isabel
Soube de
modo inesperado da morte de Pedro Tamen (1934-2021) a meio de uma tarde de
praia, algures na Costa Vicentina mas não será hoje este o caso.
Pedro Tamen
como Armando Silva Carvalho ou Fernando J.B. Martinho estão sempre comigo e não
podem morrer; em certo sentido é apenas o registo civil que funciona nestas
situações.
Porque a
Poesia não pára, escreve-se uma canção, um poema ou então mente-se logo - se
por mentir puder ser entendido o acto
de fingir que a vida é tão importante como o poema procura dar a entender.
José do Carmo Francisco
sexta-feira, 28 de junho de 2024
Segundo poema para Manuel Fernandes (1986)
Segundo poema para Manuel Fernandes (1986)
Não lhe podem já tirar tudo
mas escondem-lhe o nome, os golos,
as vozes de quem, nas humildes casas
lhe grita o nome à volta do som dum rádio
nas tardes interrompidas dum quotidiano igual.
Não são homens – são sombras, escondem o rosto,
furtivos, fechados nos gabinetes, nos automóveis,
roubam os sonhos, decretam a morte civil
dum jogador assim perseguido sem porquê.
Não lhe podem já tirar tudo
ao menos ficam os troféus oficiais, as recordações,
as homenagens mais particulares
as fotografias dos jornais e os abraços
dos companheiros a correr do outro lado do campo.
Não são homens – são sinais dum castigo
que se perde no fundo do tempo, longe,
lá onde começou a primeira de todas as guerras
lá onde tábuas de morte se pregaram num coração.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
terça-feira, 25 de junho de 2024
Novo poema nº 47 para Ana Isabel
Novo poema nº 47 para Ana Isabel
Há nos
algarismos desta idade um misto da infância que não se despede dos nove e da
maturidade dos quarenta; é uma mulher-menina
a olhar o Mundo no Outono de 2021.
Sobe um
rumor de alegria dos pratos da Balança que simboliza toda a ternura, todo o
sereno equilíbrio e todo o generoso estoicismo do signo que perdura e nunca se
despede.
Porque
primeiro chegou num sonho mas o seu tempo cola-se à verdade do quotidiano do
calendário na parede seja num talho seja numa oficina de automóveis; qualquer
lugar é sempre tempo de Balança.
José do
Carmo Francisco
(Óleo de Aron Wiesenfeld)
quinta-feira, 23 de maio de 2024
Novo poema nº 46 para Ana Isabel
Novo poema nº 46 para Ana Isabel
O som de
fundo é uma música a metro, canções
já batidas ao longo de verões passadas e que hoje são apenas resultado de uma varinha mágica que tudo coloca na mesma
bitola; é música para ouvir nos elevadores dos prédios modernos.
Ninguém
repara no batuque vazio de música com melodia, há apenas ritmo e nada mais,
todos aqui procuram o usufruto da cerveja gelada, do ginger ale com limão, do copo de vinho branco muito fresco.
Porque até a brisa que se levanta do mar incita a não fazer nada, para além de ouvir o telemóvel que por acaso aqui nesta praia não tem propagação em todas as redes.
José do
Carmo Francisco
(Óleo de Claude Monet)
quinta-feira, 18 de abril de 2024
Novo poema nº 45 para Ana Isabel
Novo poema nº 45 para Ana Isabel
Os cientistas são no fundo pessoas como as outras;
acreditam apenas naquilo que lhes convém e depois procuram acertar as
circunstâncias com as suas ideias particulares.
A ciência não tem nada de místico neste tempo de 2021
pois a situação flutua entre uma coisa e o seu contrário e para isso há sempre
uma resposta ou uma explicação.
Porque o importante é dormir descansado todos os dias, o
mesmo é dizer todas as noites depois de desligar a Internet que é o novo
relógio do tempo e do mundo.
José do Carmo Francisco
(Óleo de August Herbin)
terça-feira, 19 de março de 2024
Novo poema nº 44 para Ana Isabel
Novo poema nº 44 para
Ana Isabel
A bandeira vermelha é uma indicação para os banhistas mas o
nadador-salvador está sem trabalho; a gente da praia prefere o espaço
intermédio entre o oceano e a terra para brincar na água que sobejou da recente
maré cheia.
O café do motociclista é um combustível cultural no fim da
manhã, intervalo de viagens feitas e por fazer na máquina voadora a rasgar a
paisagem e a assustar o povoamento.
Porque tudo isto se inscreve nos dias das férias que, mesmo
perturbadas pela pandemia, não deixam de se impor no calendário de quem aqui se
fixou de modo provisório.
(Fotografia de Luís Eme - Algarve)
domingo, 18 de fevereiro de 2024
Novo poema nº 43 para Ana Isabel
Novo poema nº 43 para Ana
Isabel
Um dia Jesus Correia
(1924-2003) mostrou-me uma fotografia da equipa dos cinco violinos ao lado da criança prodígio Pierino Gamba de visita
a Portugal em 1947.
Hoje vi no Youtube o vídeo com
um menino russo com muito estilo a tocar como
gente grande o Concerto nº 3 de Mozart para piano e orquestra de câmara.
Porque aqui é tudo uma questão
de escala e de dimensão. No caso deste menino eu tenho todas as dúvidas sobre a duração do
efeito surpresa; a única coisa assegurada é o gozo pessoal e íntimo de cada
concerto.
domingo, 21 de janeiro de 2024
Novo poema nº 42 para Ana Isabel
Novo poema nº 42 para Ana Isabel
Eram frugais
os cavaleiros de Nuno Álvares Pereira a caminho de Monchique; davam de beber
aos cavalos na ribeira de São Teotónio, a seguir rezavam e só depois comiam
pouco e devagar.
É por tudo
isso que ainda hoje tanto a imagem e como o altar antigo permanecem e continuam
no pequeno Santuário do Monte da Orada.
Porque nem tudo se perde na erosão do tempo que, sempre e todos os dias, trabalha para o lado do esquecimento.
José do
Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)