terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Balada para a Pastelaria «Orion»


Balada para a Pastelaria «Orion»

Na «Orion» Pastelaria
Os anos correm velozes
Onde era uma vacaria
Hoje é confusão de vozes.
Nas quatro vezes por dia
Passava em frente a correr
Quem diria, ai quem diria
Que era este o Lugar de Ser.
Muitos os poemas escritos
Contos e crónicas também
Mesa de choros e de gritos
Que não chegam a ninguém.
Homens de fato cinzento
Tão cinzento como é o dia
Lá fora está muito vento
Aqui nasce a nova alegria.
No retrato do fundador
Senhor Armando é sorriso
Os doces são um amor
No meu vazio indeciso.

José do Carmo Francisco 

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Poema periférico para Victor L.


Poema periférico para Victor L.

Os meninos não deixaram de brincar
Veio o sol, há mais pneus e corridas
As poucas lágrimas enxugam depressa.
Eles não sabem nem este é tempo de saber
Os pais, os tios e os avós podem descobrir
Por quem os sinos dobram nesta sexta-feira.
Morre o corpo, fica a alma e toda a sua paz
Na sementeira de esperança que não se perde
Há um segundo pai todos os dias nessas horas.
A minha filha Marta e o meu neto António
São um mundo novo ligado pela sua ternura
Tantos anos depois tudo isso está e continua.
Nem lágrimas intercontinentais nem nada
Do lado do espanto, só a dôr, só a revolta
E os meninos não deixaram de brincar.

José do Carmo Francisco

(fotografia de José Antunes)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Poema para Os corvos de Francisco José Viegas


Poema para Os corvos de Francisco José Viegas

Meu neto Tomás nega-me (Stop!) de modo firme
A possibilidade de brincar com os corvos do Paragon
Tal como antes fizera junto à casa de Charles Gounod
Os dois a caminho do grande planalto de Blackheath.
Não admira que ele não conheça o poema «Os corvos»
Tirado de um livro de 2001 intitulado «Metade da vida»
Que o próprio autor definiu como um luxo e uma vaidade
Quando meu neto Tomás nem sequer ainda tinha nascido.
De certeza Tomás não conhece o meu poema já antigo
Chama-se esse poema «O corvo de Papillons Walk»
Sobre o corvo que comia migalhas de pão dos meninos
De manhã a caminho da Escola Primária de Brooklands .
Somos corvos, nada mais do que corvos ansiosos
Por uma migalha de pão, de ternura ou de atenção
Nós que sabemos serem as palavras tão frágeis
Como as pétalas mais pisadas depois de um baile.
Mas isso era ir longe, para o lado de Maiakovski
E eu celebro o encontro com um poema curto
«Sobre o verde, um silêncio devastador.
Ouve-se em toda a ilha o seu aviso.»

José do Carmo Francisco    

(fotografia de autor desconhecido)  

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Balada para Teresa Silva Carvalho


Balada para Teresa Silva Carvalho

A tua voz tem a voz da Terra e do Mar
Voz com todo o tempo do Mundo
Uma voz que não se cansa de cantar
Num registo extenso e tão profundo.
Somos todos os filhos da madrugada
Que trazemos os caminhos no olhar
Escolhemos um roteiro noutra estrada
Onde ouvimos toda a Terra a respirar.
Há canções que se elevam da planície
Da monda, doutros trabalhos sazonais
Num CD de tão pequena superfície
Se juntam os seus sintomas e os sinais.
A tua voz é uma viagem pequenina
À terra da sementeira e da colheita
Traz uma canção que não termina
Porque tem o rigor de ser perfeita.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Autor desconhecido)