domingo, 26 de abril de 2015

Canção para um Império em S. Carlos


Canção para um Império em S. Carlos

Dia de bodo não há querela
Senhor Luís venha à janela
Que um foguete está no ar
Venham sopas a preceito
O vinho de cheiro no peito
Esta alcatra é um manjar
E eu saúdo a Impanatriz
Luísa de mão dada com Luís
Dois confeitos num copinho
Eu cheguei do Continente
E no meio desta gente
Nunca me sinto sozinho
Eu peço a este Imparador
Papel de seda por favor
Tal como manda a canção
Peço loiro, cebolas doiradas
Toicinho em taliscas tiradas
Pau de cravo, pimenta em grão
Mas não canto ao desafio
Faço meus versos com brio
E não passo dum amador
Acabou a brincadeira
Viva a bela Ilha Terceira
Luís Bretão Imparador

José do Carmo Francisco

 (fotografia de autor desconhecido)

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Balada da casa dos cantoneiros


Balada da casa dos cantoneiros

Roubaram-me os azulejos
Com as letras do meu nome
Roubaram o pão e os queijos
Que me matavam a fome

Roubaram a minha enxada
Pá-balde e carro de mão
Levaram também a estrada
E com ela o meu cantão

Roubaram tudo o que havia
Nesta casa e atrás da porta
Roubaram toda a alegria
E a casa ficou logo morta

Levaram toda a minha vida
Manhãs e tardes de suor
Hei-de encontrá-la perdida
Vá esta vida por onde for

Na cada dos cantoneiros
Há uma paz de cemitério
Saíram os derradeiros
Avançou logo o mistério

Na casa dos cantoneiros
O telhado não tem telhas
Os relógios sem ponteiros
Registam horas já velhas

Na casa dos cantoneiros
A cozinha não faz fumo
À noite tem companheiros
Sem destino e sem rumo

Na casa dos cantoneiros
A água faz inchar as portas
Não é como nos ribeiros
Que fazem falta nas hortas

José do Carmo Francisco

(fotografia de autor desconhecido)