Estremadura
(para a Leonoreta Leitão)
Nas férias
grandes ainda sem peso no calendário
Nos dias
cheios de iodo no sol da tarde
Molhava os
pés na beira do mar e não era
Essa porta
nem esse caminho para sair do medo.
Ninguém
tinha chaves – só tínhamos o mar
Coisa que
obviamente não nos pertencia.
Nas férias
grandes as pedras das casas sem mudar
A voz
sufocada nos corredores compridos
Era a nossa
voz a deitar para dentro
As grandes
dúvidas duma porta fechada.
Ninguém
tinha chaves – só tínhamos o mar
Coisa que
obviamente não nos pertencia.
José do Carmo
Francisco
(Fotografia de Luís Eme)