Balada para
Dionísio Mendes em Coruche
Por mais que tente e insista
No futuro que o esqueceu
Este filho de um motorista
Nunca irá para um Liceu.
Lá vem Álvaro
Cunhal
Fato-macaco e
lancheira
Do Norte de
Portugal
Passa a noite na
Figueira.
Misturado na multidão
Na berma dessas estradas
No fim de uma reunião
Até amanhã Camaradas.
No quadrado das
prisões
Vergonha de
Portugal
Castigo de opiniões
De Peniche ao
Tarrafal.
Do Aljube até Caxias
Vai a distância sofrida
Do que só encontra dias
Quando procura mais vida.
No carro do
seareiro
Vai amizade e
esperança
Os mimos vão
primeiro
Logo a seguir à
matança.
Com o rancho melhorado
Os detidos desta prisão
Passam um melhor bocado
Com as coisas do carrão.
Nos Domingos de
intervalo
Entre o trabalho
aturado
A bicicleta é um
cavalo
Que me leva a todo
o lado.
Vem o Pachancho de Braga
Vem a Famel de Aveiro
Na prestação que está paga
Há um mundo novo inteiro.
Na mesa com
telefonia
Copo de água a
despistar
Rádio Moscovo
anuncia
Tudo contra
Salazar.
Descoberto o desconhecido
Nas notícias reveladas
O Mundo tem outro sentido
Vai para além das estradas.
Para Coruche e para
Mora
Para Lavre e
Azervadinha
Com notícias a cada
hora
A terra não está
sozinha.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
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