segunda-feira, 3 de julho de 2017

Balada para Dionísio Mendes em Coruche


Balada para Dionísio Mendes em Coruche

Por mais que tente e insista
No futuro que o esqueceu
Este filho de um motorista
Nunca irá para um Liceu.
Lá vem Álvaro Cunhal
Fato-macaco e lancheira
Do Norte de Portugal 
Passa a noite na Figueira.
Misturado na multidão
Na berma dessas estradas
No fim de uma reunião
Até amanhã Camaradas.
No quadrado das prisões
Vergonha de Portugal
Castigo de opiniões
De Peniche ao Tarrafal.
Do Aljube até Caxias
Vai a distância sofrida
Do que só encontra dias
Quando procura mais vida.
No carro do seareiro
Vai amizade e esperança
Os mimos vão primeiro
Logo a seguir à matança. 
Com o rancho melhorado
Os detidos desta prisão
Passam um melhor bocado
Com as coisas do carrão.
Nos Domingos de intervalo
Entre o trabalho aturado
A bicicleta é um cavalo
Que me leva a todo o lado.
Vem o Pachancho de Braga
Vem a Famel de Aveiro
Na prestação que está paga
Há um mundo novo inteiro.
Na mesa com telefonia
Copo de água a despistar
Rádio Moscovo anuncia
Tudo contra Salazar.
Descoberto o desconhecido
Nas notícias reveladas
O Mundo tem outro sentido
Vai para além das estradas.
Para Coruche e para Mora
Para Lavre e Azervadinha
Com notícias a cada hora
A terra não está sozinha.

José do Carmo Francisco  
      

(Fotografia de autor desconhecido)

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