O Cristo de madeira da Rua Anchieta
Uma coroa mas de espinhos
Faz sangue no incauto
rosto
Passam os homens sozinhos
Do sobressalto ao
desgosto.
No Natal que se aproxima
Tão veloz como uma luz
Entre a lágrima e a rima
Surge o busto de Jesus.
Num bocado de madeira
Trabalho de artesanato
Uma peça de oliveira
Que ultrapassa o retrato.
Porque extensão e volume
Dum rosto hoje distante
Lembram traição e ciúme
Do suposto bem-pensante.
Sacerdote incontestado
Entre Herodes e Pilatos
O povo tinha gritado
Por Barrabás e seus actos.
Na varanda e na bacia
Quem lava as mãos a chorar
Sabe que no fim do dia
A água não chega ao mar.
Travada pela secura
Do deserto da indiferença
Escondeu-se numa escritura
Sem sequer pedir licença.
José do Carmo
Francisco
(fotografia de autor
desconhecido)
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