Poema periférico para Isabel Gouveia
Nem
salada da Macedónia nem pratos de Creta
Nesta
mesa onde apenas o cinismo se mascara
De
harmonia e o medo se esconde no perfume.
Nada que não seja habitual e bem conhecido
Numa pátria iletrada que não lê e não
conhece
Os exactos limites da sua ignorância já
antiga.
Nesta
mesa há um rebanho meio disperso
Com
uma ovelha ronhosa que por aqui fugiu
E
não responde ao cão nem ao pastor aflito.
Cinquenta e cinco anos depois do primeiro
livro
O poeta insiste na modulação da voz do
Mundo
E continua a tentar o poema velho e
sempre novo.
Quase
quatro mil anos depois o disco de argila
Continua
a oração à Deusa-mãe daquele tempo
Sempre
soletrada devagar e de fora para dentro.
Metáfora da vida, a viagem não tem fim
conhecido
Sabe-se como começa mas nunca como
termina
Como uma clássica guerra entre dois
beligerantes.
Este
poema é como uma oração a ligar de novo
Tudo
aquilo que no Mundo a morte separou
No
coração de quem ainda canta e não esquece.
José
do Carmo Francisco
(Óleo Charles Sheeler)
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