Poema
periférico para Francisco Távora
O
arco da Rua de São Bento já não está ali
Na
Praça de Espanha ninguém repara
Há
uma febre na pressa plural da cidade.
Nós ouvimos o que dizem as pedras
Na antropologia das gerações passadas
Que por aqui deixaram beijos e lágrimas.
Nós
levamos no pálio a naveta do incenso
No
Senhor dos Passos ou no Corpo de Deus
Entre
os clarins os estandartes e as bandeiras.
Somos bisnetos de Montarroio de
Mascarenhas
Nós sofremos de jornalite aguda, essa
infecção
Para a qual não existe nem remédio ou
vacina.
Somos
nós afinal que contamos aos outros
As
suas próprias raízes, histórias e peripécias
Mesmo
que ninguém tenha reparado nisso.
Temos no nosso olhar um gabinete de
estudos
Na voz temos uma grande sede de
civilização
Numa cidade que há muito não pára de
crescer.
Partimos
sempre do pó para a posteridade
Temos
um sonho impossível de concretizar
Parar
uma hora o Sol sobre Lisboa ao meio-dia.
Só assim haveria algum registo do brilho
Da luz forte das pedras e das ruas de
Lisboa
Mas afinal o Sol não se demora na
cidade.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
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