Poema periférico para o
homem do chá
O médico conhecido e o
escritor obscuro
Bebem chávenas de chá
verde na esplanada
E quem as prepara é um
homem triste.
Entre cães activos e telemóveis desligados
A tosse, os charutos e as outras coisas más
A tarde declina nas duas chávenas de chá.
A caminho do comboio já
bem de noite
Ninguém pode reparar
naquelas lágrimas
Misturadas com estas
folhas castanhas.
Com uma filha no outro lado do Mundo
E outra apenas a duas horas de avião
Como eu compreendo o homem do chá.
Mesmo sem saber sequer seu
nome
Sinto o homem do chá como
um irmão
Na saudade húmida da filha
distante.
Só o vento a arrastar folhas no passeio
Me parece neutral neste Outono frio
Em que os sentimentos tomam partido.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
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