Balada da Calçada do
Combro (ou o «28» de Oleg Basyuk)
A Rua de todos os dias
Onde eu ia quatro vezes
E as noites mais sombrias
Demoravam como meses
Polícia à porta da Escola
A proteger as meninas
O amor era uma esmola
Pedida noutras esquinas
Poço dos Negros abaixo
Em cima era o Calhariz
Na memória que eu acho
Tudo é escuro e infeliz
Havia a guerra e o medo
Estava perto a inspecção
Um poema era segredo
Na Escola Veiga Beirão
Ao sábado até à uma
O trabalho continua
A bica de alta espuma
Espera por mim na rua
Manhã de segunda-feira
Vinte e oito na pendura
Uma vida verdadeira
Não se vive em ditadura
Nos cafés ao fim do dia
Os boatos são notícias
Falar é uma teimosia
À paisana são polícias
«Suplemento literário»
Quinta-feira nos jornais
Via o tempo ao contrário
Onde os sonhos eram reais
Passam já quarenta anos
Sobre mim sobre a calçada
Fora estes mitos urbanos
Parece que não houve nada
Excepto talvez a ternura
Que se gastou em excesso
A calçada é uma gravura
Mas virada do avesso
Onde até eu sou presente
Na multidão disfarçado
Estou no lugar da frente
Assim vou a todo o lado
Numa porta de Livraria
Vi Bocage em imagem
Na paragem da alegria
Acabou esta viagem
José do Carmo
Francisco
(Óleo de Francisco Xicofran)
(Óleo de Francisco Xicofran)
tão gira. eu chamo-lhe a rua da alegria. :-) há no Porto uma, mas não é assim.
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