As mãos de meu avô José Almeida
Caiu o telhado. Não sei
se imaginas
Como tudo agora é sombrio
e triste
A casa onde vivemos está
em ruínas
O quarto onde se nascia
já não existe
As pedras e os barrotes
são só entulho
Ficou tudo acumulado no
rés-do-chão
Há um silêncio onde antes
era barulho
Que era um sinal de vida
em profusão
Fosse na casa, no quintal,
no palheiro
Onde também se fazia o nosso
lagar
As tuas mãos à luz do
velho candeeiro
Trabalhavam na noite fora
sem parar
E aos domingos a trompete
tão diferente
Faiscava entre a luz do
sol na procissão
As tuas mãos, o chumbo e
a água quente
Faziam na trompete um som
de perfeição
José do Carmo Francisco
(Foto de Luís Milheiro)
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