Matéria
reservada
(para o Nicolau Saião)
Sombras
até onde se deixa de ver, pesos herdados duma dor antiga, vozes leves que estão
por decifrar, enfim tudo aquilo que, ano após ano, se acumula numa mesa à
espera do adequado tratamento sentimental.
Os
mais agudos esforços para não enlouquecer, as dúvidas mais dolorosas sobre o
que há vinte anos era verdade reconhecida como tal, os fantasmas mais
particulares, aquilo que se transporta com a gordura, a miopia, o quotidiano
esforço para ganhar (ou perder) o pão e a vida.
Não
há nem pode haver ministérios que disso tratem. Nem sequer ao menos haverá quem
possa bem classificar. E se houvesse pasta, direcção geral ou gabinete que dela
tratassem, um só autocolante ou carimbo lhe poderia servir – Matéria
Reservada.
José
do Carmo Francisco
(Óleo de Edward Hooper)
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