Cemistério
Aqui se fixam as
diferenças
até na morte como
mercadoria.
Dinheiro em pedra nos
jazigos;
campas pobres só com a
terra
– por detrás dos muros,
prédios,
vozes, gente que faz
barulho
e estende roupa para este
sol.
Pode chegar-se aqui de
“táxi”
ou também de autocarro.
Nas flores mais secas
se vai perdendo a luz.
Outras memórias, palavras,
São o lixo deste dia.
Um tempo para dizer este
tempo
quando o relógio se cansa
e perde os ponteiros do
coração,
um tempo para lembrar
as flores tão verdadeiras
num frasco de tofina bem lavado.
Outras facturas, outro
dinheiro
se perdem nesta morte a
prazo.
Morre-se também na tarde,
perguntando sempre à morte
qual a diferença de luz
entre o mármore e a terra.
José do Carmo Francisco
(Óleo de Henri Matisse)
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