Marta (1985)
Nada sabes ainda dos
telhados e do sol
Olhas sem ver as flores na
janela.
O som dos barcos mais
abaixo no rio
chega-te diluído pela
distância, pelo vidro
talvez pela tua distraída
maneira
de estar aqui como quem
não está.
Soltas monossílabos no
impulso da cadeira
- são ainda os primitivos
da tua voz
a que não existe ainda e
está em construção.
Sobes de tom, olhas tão
profundamente
que quase assustas na
serenidade.
Uma vez por outra dormes –
no silêncio
dizes tudo, cansada,
costas voltadas para nós.
Não tens ainda sonhos ou
remorsos
demasiado pequeno é o teu
universo
e levantas o olhar como
quem duvida
como quem nada sabe dos
telhados e do sol.
José do Carmo Francisco
(Fotografia da Colecção de
JCF)
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