Poema periférico para Álvaro
Pato
O poema passa quatro vezes por
dia
À porta do lagar de azeite do
teu avô
Entre o Bom Retiro e a Escola
Técnica.
Tal como tu o poema não pode
ouvir
As crianças a chorar na sala
ao lado
Com as torturas das mães a confessar.
As cartilagens do ouvido estão
quebradas
Golpes de tesoura repetidos e
certeiros
Por um pide mau que sabia do
seu ofício.
Eu não sou ninguém, fui
delegado sindical
Vinte e quatro anos seguidos
desde 1972
Por isso tenho hoje uma
reforma pequena.
Mas dava um ano de reforma e
vida a quem
Me dissesse onde os sapatos de
Carlos Pato
Na arca guardados junto à cama
da avó.
Nós continuamos a ser da mesma
turma
Ninguém nos tira dessa
fotografia anual
A preto e branco como é afinal
a nossa vida.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de autor
desconhecido)
Sem comentários:
Enviar um comentário