Poema periférico
para Victor L.
Os meninos não deixaram de brincar
Veio o sol, há mais pneus e corridas
As poucas lágrimas enxugam depressa.
Eles não sabem nem
este é tempo de saber
Os pais, os tios e
os avós podem descobrir
Por quem os sinos
dobram nesta sexta-feira.
Morre o corpo, fica a alma e toda a sua paz
Na sementeira de esperança que não se perde
Há um segundo pai todos os dias nessas horas.
A minha filha Marta
e o meu neto António
São um mundo novo
ligado pela sua ternura
Tantos anos depois
tudo isso está e continua.
Nem lágrimas intercontinentais nem nada
Do lado do espanto, só a dôr, só a revolta
E os meninos não deixaram de brincar.
José do Carmo Francisco
(fotografia de José Antunes)
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