Veneza o segundo
poema – Os relógios invisíveis
Há em Veneza um outro conceito do tempo. Sem relógios.
É o sol que abre as portas das pastelarias, pequenos hotéis,
mercados ao ar livre, livrarias, restaurantes e, também, dos transportes
públicos do grande canal. É a sombra que fecha os taipais das bancas dos
feirantes, as portas das lojas, os toldos das esplanadas e afugenta os turistas
para os autocarros que os esperam do outro lado do canal, perto da estação do
comboio.
Mo intervalo há tempo para tudo. Ou quase: a cidade respira,
move-se, dialoga, contempla e dorme como se de um ser humano se tratasse. O
tempo deu-lhe a sábia medida do que é justo, urgente e necessário. Por isso nas
ruas estreitas há um sereno usufruto do tempo. Ninguém atropela, empurra ou
agride aquele com quem se cruza.
Nos relógios invisíveis de Veneza é sempre tempo de viver.
José do Carmo
Francisco
(Fotografia de Autor Desconhecido)
Sem comentários:
Enviar um comentário