Veneza o Primeiro
poema – Entre pedra e água
As ruas de Veneza são iguais às veias e artérias que
percorrem os caminhos líquidos da alegria. O mesmo é dizer: não há ruas em
Veneza, apenas travessas, becos e praças no intervalo das pedras e da
água.
As ruas de Veneza não existem como as outras ruas de outras
cidades: com fumo e ruído e a ânsia metálica de chegar numa pressa para nada. A
água dá aos grandes passeios o ritmo de uma vida que nasceu num líquido
anterior, num sono descansado, na paz de não haver conflitos porque a placenta
os dilui e aniquila. A pedra dá às viagens a força dum passado sempre a
resistir à erosão da chuva, do vento e da morte.
Entre pedra e água, as ruas de Veneza não existem mas são
verdade.
José do Carmo
Francisco
(Fotografia de Autor Desconhecido)
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