segunda-feira, 16 de março de 2015

Balada do Cais da Cortiça


Balada do Cais da Cortiça 

Cais da cortiça, vapores
A caminho de Lisboa
 
Samarra de lavradores
 
Contra o frio da proa

A água do cantarinho
O mestre tem na cabina
É do poço do vizinho
Onde a rua faz esquina
 

As galeras de Pegões
 
Chegam aqui de manhã
 
Entre os gritos e razões
 
Na cadeia comarcã

E a gente dos escritórios
Nas janelas da prisão
No maço de Provisórios
Cada cigarro um tostão
 

Em certas ocasiões
 
Vem a carga diferente
A galera traz melões
 
Matam a sede à gente

Com rodas de camioneta
 
São outras velocidades
 
Viagem quase secreta
Entre duas localidades
 

Entre Montijo e Pegões
 
Levam a carga que calha
 
Ou o ferro para portões
 
Ou vinte fardos de palha

E esta galera continua
 
Numa memória já morta
 
Já vem na curva da rua
 
Onde estou à minha porta

José do Carmo Francisco       
 
 ´
(fotografia de autor desconhecido)

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