Domingo à
tarde em Falconwood
O olhar do menino entrou
no meu poema
E não mais saiu. Era um
olhar sentido
Na revolta de uma exclusão
cruel e súbita.
Sentado num banco frente à
mesa da festa
não o deixam falar com os
conhecidos
Entre vizinhos e colegas
de turma na escola.
Quase tudo em seu redor
era em miniatura
locomotivas e linhas de
volta à infância
Porque o carvão e os
apitos são verdade.
O olhar do menino era em
ponto grande
e a sua dôr tinha o volume
da sua idade /
Sete anos bem medidos no
meu olhar.
Não era problema não o
terem convidado
mas sim a proibição de se aproximar
E de comunicar com as
crianças da festa.
Festa com pouco de muito
recomendável
além de bolos de fábrica e sumos de pacote
Bebés e mães com problemas
hormonais.
Vejo no menino de
Falconwood o meu olhar
quando na minha vida
outros me disseram
Que queres daqui? - como quem bate a porta.
E ao bater a porta deixam
do lado de fora
os sonhos de quem, como
eu, só queria fazer
Um breve recado sobre o
tempo que passou.
Nos jornais, nas revistas
e nas editoras
nos encontros e desencontros das letras e da
vida
Muitas vezes ouvi a
pergunta - Que queres daqui?
Foi esse desprezo, essa
vaidade, esse rancor
que eu vi hoje no olhar
triste do menino
Nos comboios miniatura de
Falconwood.
Lá tudo é miniatura desde
o fumo ao apito
desde as várias linhas às
passagens de nível
Tudo menos o olhar do
menino afastado.
José do Carmo
Francisco
(Fotografia de Autor Desconhecido)
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