Não me venham com cantigas (para J.H. Santos Barros
1946-1983)
Claro que fazer versos dói, não duvido, mas o pior é doer
em mim
o que fizeram aos teus versos, soltando os cães que os
dizimaram
fingindo esquecer que a melhor homenagem possível é a de
respeitar
os teus poemas dos anos 60, 70 e 80. Mas não, mas não.
Como se não bastasse a tragédia de 83, o país de sacanas
e de analfabetos
celebrou em trágico os teus 75 anos no passado dia um de
Janeiro.
Havia o morto que fala, o cantor que não canta, o juiz
que trabalha na TV,
temos um livro povoado de erros crassos e de gralhas que
também são erros.
Ao contrário de ti não digo «venham-me com cantigas» mas
sim
«não me venham com cantigas» também porque já não tenho
idade.
Porque um dia terei de explicar à tua neta que vive nos
Estados Unidos da América
esta trapalhada bem portuguesa. Porque ela usa o nome da
família da Ivone em Grândola
um nome que define una medida para servir a aguardente
nas tabernas.
E eu não sou capaz. Vai para além do meu entendimento.
José do Carmo
Francisco
(Desenho de Cruzeiro Seixas)
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