quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Namorar uma cor: verde


Namorar uma cor: verde

Namorar uma cor…

São muito antigas as minhas ligações ao verde. A paixão dessa cor desde sempre escolhida como símbolo, como referência, como preferência, como fixação. Tal como na liturgia da Igreja, o verde é o sinal da renovação, da Primavera, da vida que se multiplica.

Namorar uma cor…

Como se namora uma pessoa, se marcam encontros, se sai à noite, se é e se faz tudo para se ser fiel.

Namorar uma cor…

Desde 1966 que, em Lisboa, mantenho, este namoro. Marco encontros de quinze em quinze dias no relvado do Estádio José Alvalade. Saio à noite nos jogos das competições europeias. Procuro ser fiel ao verde sem hesitações nem desânimos. Festejo as vitórias com muita alegria mas faço das derrotas uma reserva moral para partir ao encontro de novas vitórias. Apenas isso. Nem um sonho. Nem um drama.

Namorar uma cor…

Hoje como ontem gosto de ver o relvado sem ninguém. De vez em quando, sempre no fim da tarde, olho-o no grande silêncio. Vejo nele a sementeira das grandes emoções, dos grandes encontros, dos resultados felizes.

Hoje como ontem o verde é a direcção da Primavera, a presença da Esperança, o sentido da Vida a renascer. Sempre. Para sempre.

(Nota final – Este texto integra o livro «Futebol – iluminuras e textos consagrados» de Julho de 2004 (Editora Sete Caminhos) e foi recuperado em 7 de Outubro de 2020)        

[Crónicas do Tejo 261]

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Autor Desconhecido)


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