A relva em frente
(a Jacinto do Prado Coelho)
Numa grande chuva de silêncio
/ Perfilavam-se as palavras
Erma cartas na praia da mesa / Com notícias e livros distantes.
A relva em frente continuava a
crescer.
Não a relva dos pastores
fugidos à escola
Não a infância dos livros
escolares da infância
Mas a relva possível aqui
entre automóveis
E o passe social perdido nos
meus bolsos.
Numa grande chuva de folhas / Perfilavam-se as árvores
Eram os sentimentais sumários
/ Dum exercício escrito por fazer.
A relva em frente continuava a
crescer.
Agora no mar doméstico dum
grande jardim
Podia conhecer um diário
talvez de bordo
(A navegação proibida numa
onda de receios
Instalada em relatórios e em
batas brancas)
Numa grande chuva de sons / Perfilava-se uma melodia
Eram nuvens caseiras a
dispersar / Num céu boquiaberto pelo
vento.
A relva em frente continuava a
crescer.
Não havia já sorrisos à
cautela nem o medo
Havia um profundo olhar uma
quase alegria
Outra árvore (isto pensará
quem não souber)
Aqui está pronta a dar ainda
mais palavras.
José do Carmo Francisco
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