sábado, 30 de janeiro de 2016

Uma mesa na manhã


Uma mesa na manhã

As tuas mãos deixaram-me um calor de paz
Encontrei o teu olhar mas só de passagem
Encontrei a tua voz mas foi tudo tão fugaz
Chamava-te ao longe a porta da carruagem

Na mesa onde te tenho lembrado tanta vez
Desembrulhei os meus volumes de saudade
Esta palavra que apenas existe em Português
Mas sem volume, sem peso, sem densidade

Encontrei o teu lugar mas só de passagem
Nesta mesa onde chegaste já cansada
De uma vida que é a metáfora da viagem
Canseira que te toma sem dares por nada

Procurei no meu beijo dar-te um resumo
Por duas vezes prolongaste a despedida
Nos vidros sujos pela pressa e pelo fumo
Que envolve todos os rituais da tua vida

José do Carmo Francisco

(Óleo de Heidi Palmer)

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