Balada para 90 anos da «Gazeta das Caldas»
Na balada que é só minha
A memória é uma mistura
Estou nas Caldas da Rainha
Cruzo a Rua da Amargura
Faço exames numa escola
Em Abril e era a terceira
Num frio de usar camisola
O medo era uma torneira
Em Julho a quarta classe
O diploma vem de Leiria
E sem que eu esperasse
Tive um fato nesse dia
Nos Armazéns do Chiado
Que era na Praça da Fruta
Anos depois assustado
Eu começava outra luta
Minha prima Deolinda
Tinha manteiga no pão
Na recruta que não finda
Seu amor era oração
Reencontrei Juventino
Num café à sua mesa
Mal sabia que o destino
Me reservava a surpresa
Hoje se sou jornalista
Devo ao querer imitar
Em jornal ou em revista
Seu percurso singular
Que começou na aldeia
No Jornal Catarinense
Onde a força duma ideia
É razão que tudo vence
Foi nesta automotora
Que o Mundo cresceu
Do menino de outrora
Ao adulto que sou eu
Entre horário da carreira
E o comboio a atrasar
Já não havia maneira
De chegar ao nosso lar
Nem o Vítor da carrinha
Nem o senhor Guimarães
Resolviam à noitinha
Problema de pais e mães
Garagem dos Capristanos
Primeiro café de surpresa
E passados tantos anos
Continuamos na mesa
Noventa anos de idade
Cabeçalho dum Jornal
Começou numa cidade
Vai ao Mundo em geral
Coração em pé de guerra
Ele chega a todo o lado
É o tempo da minha terra
Numas folhas condensado
Tenho meu nome e retrato
Treze anos de presença
Há um secreto contrato
Que liga nossa diferença
Numa idade mais madura
Abre-se ao Mundo o jornal
A memória é uma mistura
E esta balada é plural
Nela cabem os projectos
Os sonhos e as alegrias
Os jornalistas concretos
A escrever todos os dias
José do Carmo
Francisco
Sem comentários:
Enviar um comentário