Canção para uma noite em Évora (1938) - a Carlos
Querido
Meu avô José Almeida na noite
Esperava em vão a carruagem
Que nesse dia partira do Barreiro
Com o cofre para pagar aos homens.
Em Évora apenas os sons da
feira
Quebravam a angústia da
espera
Dos carpinteiros da
Companhia
Construtores dos telhados
da linha.
Poucos anos antes no Valado de Frades
Um empregado de seu pai levava
Uma égua mansa pela arreata
Ao soldado chegado de Leiria.
Hoje é diferente. Já pai
de filhos
Não acredita nas palavras
do chefe
Nem no apontador deste
grupo
Atónito na estação da CP
em Évora.
Com o bocal da trompete na mão
Aborda um jovem e pede o cornetim
Ali entre a surpresa e a ousadia
No meio do pó do baile rasgado.
Tocou a «Moreninha» e o
«Teodoro»
As músicas da moda, anos
trinta
Ante o aplauso geral do
baile
Logo havia abafado e figos
secos.
Cinquenta anos depois contava a sorrir
Há uma fotografia dele com a bisneta
No sol de Março da nossa terra
Sem saber da morte dos comboios.
José do Carmo Francisco
(Fotografia da autoria de Larry Silver)
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