Balada da casa dos
cantoneiros 
Roubaram-me os azulejos
Com as letras do meu nome 
Roubaram o pão e os queijos 
Que me matavam a fome 
Roubaram a minha enxada 
Pá-balde e carro de mão
Levaram também a estrada 
E com ela o meu cantão
Roubaram tudo o que havia
Nesta casa e atrás da porta
Roubaram toda a alegria 
E a casa ficou logo morta
Levaram toda a minha vida 
Manhãs e tardes de suor 
Hei-de encontrá-la perdida 
Vá esta vida por onde for 
Na cada dos cantoneiros 
Há uma paz de cemitério 
Saíram os derradeiros 
Avançou logo o mistério 
Na casa dos cantoneiros 
O telhado não tem telhas 
Os relógios sem ponteiros 
Registam horas já velhas 
Na casa dos cantoneiros 
A cozinha não faz fumo
À noite tem companheiros 
Sem destino e sem rumo
Na casa dos cantoneiros
A água faz inchar as portas 
Não é como nos ribeiros 
Que fazem falta nas hortas 
José do Carmo Francisco
(fotografia de autor desconhecido)

 
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