Poema sem direcção nem código postal (sobre foto de
Valter Vinagre)
A rua onde te encontrei de
raspão
A sair e a entrar de um
autocarro
Foi rio de lavadeiras de
sabão e pedra
E canções de galeras
velozes na estrada.
Hoje estou arrependido de ter dito adeus
Tão depressa entre as duas portas de fole
Sem tempo para pedir a tua direcção actual
E o código postal respectivo e obrigatório.
A vida é um mistério,
nunca um negócio
Quarenta e oito anos
depois fiquei calado
Quando deveria falar de
moradas e de ruas
E dar-te ao mesmo tempo o
meu telemóvel.
A estrada onde foi outrora uma ribeira limpa
Com lavadeiras a cantar nas manhãs de sol
É o mesmo lugar cento e quarenta anos depois
Quando o nome de Sete Rios se justificava.
Perdi teu nome todo na
porta do autocarro
O mesmo nome que como o
meu num repique
Se seguiu a um baptizado
na mesma pia sagrada
Da igreja paroquial da
fotografia a preto e branco.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de Valter Vinagre)
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