Mas toda a gente é pessoa (de um título roubado a António Rego)
Morrem meninos em Gaza /
Nasce o menino em Lisboa
Da maré cheia à maré vasa
/ Mas toda a gente é pessoa.
No mosteiro de
Alcobaça / E na morte do fundador
Metade chora a desgraça / Metade canta o seu amor.
São Bernardo em
agonia / Na cama faz a divisão
Os tambores da folia / Ao lado da prostração.
Na Palestina em
guerra /Em vez de descer da cruz
Um pai desce para a
terra / Porque seu filho é Jesus.
Na Pietá tão
diferente / É um pai em vez da mãe
Chora um sonho de
gente / A partir de hoje é ninguém.
Pois naquela sepultura / Além do corpo enterrado
É o sonho duma
criatura / Que nunca vai ser sonhado.
Pietá de todos os dias /
Na folha do calendário
O David contra o
Golias / É o Mundo ao contrário.
Tal o gueto da Polónia /
Tal as câmaras de gás
Faixa de Gaza é
insónia / Mundo sem luz nem paz.
José do Carmo Francisco
(O óleo é de Justine Brax)
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