Não lhe podem já tirar
tudo
mas escondem-lhe o nome,
os golos,
as vozes de quem, nas
humildes casas
lhe grita o nome à volta
do som dum rádio
nas tardes interrompidas
dum quotidiano igual.
Não são homens – são sombras, escondem o rosto,
furtivos, fechados nos gabinetes, nos automóveis,
roubam os sonhos, decretam a morte civil
dum jogador assim perseguido sem porquê.
Não lhe podem já tirar
tudo
ao menos ficam os troféus
oficiais, as recordações,
as homenagens mais
particulares
as fotografias dos jornais
e os abraços
dos companheiros a correr
do outro lado do campo.
Não são homens – são sinais dum castigo
que se perde no fundo do tempo, longe,
lá onde começou a primeira de todas as guerras
lá onde tábuas de morte se pregaram num coração.
José do Carmo
Francisco
(fotografia de autor desconhecido)
(fotografia de autor desconhecido)
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