Atalaia da Barroca: nome antigo,
fonte sem água, caminhos de silvas e de pó. Ao lado passa uma estrada do século
XXI; vinte metros de distância e dois séculos de diferença. Ao som da água
contra as pedras da ribeira, apenas os pássaros replicam a melodia que nunca
termina. As uvas pretas estão ao lado das pedras e dos figos mas ninguém as vem
colher. Aqui houve rapazes (tio Manuel, tio João, tio Nascimento) que subiam às
figueiras. Maria do Rosário ficava em casa com a mãe. Aqui comia-se o que a
terra dava; couves ou batatas, feijões ou grão-de-bico, favas ou ervilhas, os
mimos da horta. Atalaia da Barroca, lugar onde respira ainda o que sobejou do
primeiro paraíso. Onde tudo era justo, suficiente, pleno e circular. Entre
sementeira e colheita, entre esforço e prémio, entre suor e festa, entre luz e
sombra, ser feliz era então aqui um ofício de todos os dias.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de Autor Desconhecido)
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