As
casas de Blackheath
Park
São todas de madeira e de
vidro
As casas de Blackheath
Park
A outra metade é feita de
tijolos
Tristes porque são todos
iguais
Na sua tão repetida
monotonia
À volta da avenida fica o
arvoredo
Antigo como as casas dos
guardas
Lembra um velho tempo de
quintas
Com cavalos e carroças no
mercado
Hoje só recordado aos
domingos
Esquilos nos ramos,
corvos na relva
De noite raposas fogem
assustadas
Dos poucos táxis a
circular na rua
Na escuridão fria da
noite inglesa
À hora dos comboios mais
raros
Envolvido nas rotinas das
escolas
Levo na mão o meu neto de
manhã
E vou buscá-lo perto do meio-dia
Pego na pasta azul com o
seu nome
E levo o saco da fruta
que ele espera
Todos os dias trocam o
livro da mala
São elefantes, borboletas
e ovelhas
Entram na floresta que eu
lhe conto
E tremem de medo dos
monstros
Como eu tremo de medo da
doença
São todas de madeira e de
vidro
As casas de Blackheath
Park
Frágeis perante a neve a
chegar
Tal como eu frente ao
pâncreas
Que de súbito há-de ficar
cansado
Tudo é intenso e frágil
nos dedos
Maneira de eu dizer adeus
à vida
Todos os momentos são
preciosos
Para que o meu neto me
lembre
E não se esqueça de me
recordar
José do Carmo Francisco
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