quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Ruy Belo


Ruy Belo

Na tua morte lembrei-me do canal do Panamá
Uma coisa que de certeza não te deve dizer nada
Agora que circulas pelo traçado de uma outra estrada
Á procura de uma praia como a Consolação – e que não há.
Formado em Direito Canónico e leitor de jornais desportivos
É possível que não conheças a história deste canal
Ainda por cima ele é tão longe de Portugal
E desse tempo há hoje apenas três operários vivos.
Morreram mais de vinte mil trabalhadores franceses
E nas sepulturas há apenas um número que os identifica
Não sei se morreste de malária ou febre-amarela – nada te rectifica
E nada me devolve as palavras que te ouvi algumas vezes.
Cada um escreve à sua maneira o poema que lhe calha
E tu já não podes acrescentar nada à tua poesia
Na tua morte percorro a tua margem de alegria
E peço-te desculpa por alguma inevitável falha.

José do Carmo Francisco 


(Fotografia de autor desconhecido)

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